JÁ NÃO FALO MAIS PELOS COTOVELOS!
- Giza Garcia
- 25 de fev. de 2022
- 3 min de leitura

Eu que sempre falei pelos cotovelos tenho deixado aos poucos que o tempo me torne uma pessoa mais introspectiva! É certo que quem fala menos, também erra menos, mas às vezes me sinto fora do contexto e simplesmente não quero emitir minha opinião, seja ela escrita ou falada.
Como “de médico e de louco todos tem um pouco”, a psicóloga que mora em mim sempre foi muito presente. Tenho a mania de prestar atenção no que acontece ao meu redor e tentar compreender o ser humano. Baita presunção! Mas é que a humanidade me fascina! E para mim as respostas nunca bastam.
Por que, o que pensam, por que pensam assim, qual vai ser o próximo passo, qual será o fim da história? Sou cheia de porquês! Sou igual aquelas criancinhas tagarelas de 3 a 5 anos que querem saber o porquê de tudo! Minha mãe disse que fui uma criança calada. Acho que tinha medo e por isto engoli todas as perguntas para saborear as respostas vida afora!
De um tempo para cá tenho pensado na garotada que conheço. Grande parte deles eu carreguei no colo. Mas embora sejam amigos dos meus filhos e noras, agora alguns deles me parecem estranhos! Ainda me cumprimentam, mostram respeito, trocam beijos e algumas palavras... E o que mais?
Tenho a impressão de que quando você passa dos 60 anos a tua opinião não tem muito sentido para eles. E aí me pergunto: será que eu também era assim? O pior é que eu era!
Tento relembrar dos meus 20/30 anos e consigo contar nos dedos as pessoas de mais idade com as quais eu tinha muita afinidade. Elas existiam, mas quase sempre estavam ligadas a algum sentimento afetivo familiar ou interesse pessoal.
Era a minha mãe, que ajudava com os filhos, a sogra que foi embora muito cedo, mas que era muito legal, uma vizinha amorosa que era quase uma mãe, e, muitas tias que me inspiravam respeito e consideração. Me lembro também de alguns homens, meus tios que contavam boas histórias e no máximo mais uma meia dúzia de pessoas com mais idade. Quanto aos demais eram só passantes!
Algumas destas já se foram e levaram com elas a sabedoria que eu não me interessei em adquirir. Levaram histórias engraçadas e lições de vida que poderiam ter sido úteis para mim! Devem ter ido também com seus anseios pela vida e questionando tanta coisa que agora sou eu quem questiona!
Lembro-me também de que algumas eram mulheres muito bonitas e com elas eu poderia ter tido a oportunidade de aprender como me cuidar melhor enquanto era jovem. Mas eu, na estupidez da minha juventude, não achava que os cabelos brancos e a pele flácida chegariam e bateriam na minha porta tão rapidamente.
Às vezes penso que não conversava mais com elas porque lá no fundo sabia que minha conversa não seria de interesse, e hoje, chega a ser engraçado perceber que muitas vezes deixo de falar porque a conversa desta turminha também me cansa! Acho que estou experimentado pela primeira vez na vida o chamado “conflito de gerações”! Não experimentei com os filhos quando adolescentes porque eu também ainda era muito jovem. Mas acho que agora descobri o que é isso!
Que estupidez absurda! Percebo que só aceitamos os mais velhos quando necessitamos deles, quando temos um vínculo afetivo familiar, quando são famosos ou importantes, são nossos chefes, ou talvez quando são ridículos e sem noção tentando se passar por adolescente ou muito engraçados, tipo aquela “tia louca” que todo muito tem!
Eu estou perdida. Talvez eu me encaixe em um ou dois destes perfis, mas eu queria muita mais!
Queria poder voltar e corrigir as besteiras. Queria voltar atrás e prestar atenção em muita coisa que teria valido a pena!
Mas como por enquanto isso ainda não é possível, vou por aqui soltando os meus anseios!
Comments